WERNECK DE CASTRO, Maria Morais (Rio de Janeiro, Brasil, 8/10/1909 – Rio de Janeiro, Brasil 6/04/1994).
Formada em Direito, foi ativista antifascista e pelos direitos das mulheres, militou desde 1930 em organizações como a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e a União Feminina do Brasil. Foi uma presa política que registrou o nascimento da prisão política feminina no Brasil.
Maria Morais Werneck de Castro nasceu em uma família abastada no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 8 de outubro de 1909, filha do advogado Justo Mendes de Morais e de Hermínia Cresta Mendes de Morais. Seu pai foi deputado federal por São Paulo entre 1935 e 1937. Ela ingressou na Faculdade de Direito e iniciou atividades políticas, militando desde 1930 em organizações como a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e a União Feminina do Brasil. Casou-se com Luís Werneck de Castro, jornalista, professor, advogado e activista comunista. Após formada ingressou no quadro jurídico da Caixa Econômica Federal.
Filiou-se à Liga Antifascista, tendo participado do congresso promovido por essa agremiação, em agosto de 1934, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Em 1935, assinou o manifesto de fundação da Liga de Defesa da Cultura Popular publicado no jornal carioca A Pátria. Por considerar que os movimentos feministas eram restritivos, na medida em que privilegiavam a conquista do voto feminino em detrimento de outras questões fundamentais das mulheres, como salário, questões trabalhistas e acesso ao estudo, fundou, com Armanda Álvaro Alberto, Eugênia Álvaro Moreira e um grupo de mulheres, a União Feminina do Brasil (UFB). Foi eleita secretária jurídica dessa agremiação, que propunha uma luta mais ampla pelos direitos políticos, sociais e trabalhistas das mulheres, e foi indicada para representá-la junto ao diretório da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Após o fechamento da ANL pelo governo federal filiou-se à Aliança Popular por Pão, Terra e Liberdade, criada nessa época para dar continuidade à ação da ANL, que se mantinha na clandestinidade.
Foi presa no dia 19 de dezembro de 1935, processada como uma das cabeças do movimento em oposição ao governo, e em janeiro de 1936 foi demitida da Caixa. Segundo declarações que prestou ao jornal Voz da Unidade em 1981, em março de 1936, quando se encontrava na cela nº 4 do pavilhão dos primários no presídio da rua Frei Caneca, ao lado de Nise da Silveira, Beatriz Bandeira, Eneida de Morais, Elisa Ewert, Rosa Meirelles, Valentina Bastos e as operárias Leonilda Joana e Maria Joana, assistiu à chegada da alemã Olga Benário Prestes, activista comunista alemana, grávida de sete meses. Alguns dias depois, quando Olga estava sentindo muitas dores e como praticamente não existia atendimento adequado, fizeram um barulhão para que ela fosse atendida. Escolhida pelos presos para acompanhá-la em sua transferência para um hospital, obteve permissão para fazê-lo juntamente com o médico Manuel Campos da Paz, também detido.
Ao chegar à saída do presídio, já não encontrou Campos da Paz e foi impedida de seguir junto com Olga Benário, que pouco tempo depois foi expulsa do país e entregue ao governo da Alemanha, onde mais tarde foi assassinada em um campo de concentração. O relato foi narrado em seu livro intitulado Sala 4: primeira prisão política feminina.
Em julho de 1937 ela foi julgada pelo Tribunal de Segurança Nacional e, embora tenha recusado a se defender por considerar o tribunal ilegal e arbitrário, foi absolvida e solta. Nessa ocasião, seu marido, que também se encontrava detido como militante e membro do corpo jurídico da ANL, foi libertado no episódio que ficou conhecido como a “macedada”, que foi a soltura de alguns presos, detidos inclusive sem denúncia, a mando do ministro da Justiça, José Carlos Macedo Soares, após sua visita aos presídios. Em seguida, Luís e Maria Werneck passaram a trabalhar no auxílio de presos políticos e de seus familiares. Às vésperas da decretação do Estado Novo, ocorrida em novembro seguinte, e diante da iminência de nova prisão, devido às suas ações em defesa dos presos, o casal fugiu para São Paulo e em seguida para a Argentina, onde permaneceram cerca de um ano.
Após a decretação da anistia em abril de 1945, Maria Werneck de Castro foi readmitida na Caixa Econômica e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), legalizado em novembro do mesmo ano. Com a decretação da ilegalidade do PCB em 1947, Maria Werneck sofreu um processo administrativo na Caixa Econômica. Em 1960 criou o curso Bandeirantes, preparatório para admissão ao ginásio. Após o Golpe civil-militar de 31 de março de 1964, o casal Werneck afastou-se das atividades políticas como medida de segurança.
Em 1979, morre Luís Werneck de Castro e Maria Werneck passou a residir em Goiânia na companhia de um dos seus quatro filhos. Ela retornou ao Rio no início da década de 1980 e voltou a participar ativamente dos movimentos sociais do período, apoiou os partidários do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Maria Morais Werneck de Castro faleceu no Rio de Janeiro no dia 6 de abril de 1994 aos 85 anos. Em 1992 foi homenageada pela Escola de Samba Mangueira, foi homenageada com a Medalha do Movimento pela Anistia Política, foi também criado o Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) número 323 com seu nome como forma de lembrar seus feitos, e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) deu seu nome a uma sala, na sede do Rio de Janeiro.
Obra
- Sala 4: primeira prisão política feminina, Rio de Janeiro: Editora CESAC, 1987.
Cómo citar esta entrada: Lessa, Patricia (2021), “Werneck, Maria”, en Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. Disponible en https://diccionario.cedinci.org