GRABOIS, Maurício (Salvador, Bahía, Brasil 02/10/1912 – Xambioá, Brasil 25/12/1973).
Militante e dirigente político do Partido Comunista do Brasil (PCB), entre 1932 e 1961, e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), entre 1962 e 1973. Foi deputado Constituinte em 1946, cumprindo mandato até 1948. Nomes de guerra: Abel, Mário, Freitas, Chico, Velho.
Nasceu em Salvador, capital da Bahia, no dia 2 de outubro de 1912. Era filho de Agostim Grabois e Dora Grabois, ambos imigrantes judeus vindos da Europa oriental. Tinha três irmãos, Jayme, Bernardo e José; e duas irmãs, Helena e Maria. O pai exercia atividades de pequeno comércio. Grabois concluiu os estudos fundamentais no Colégio da Bahia, onde conviveu com Carlos Marighella, que também se tornaria dirigente do PCB. Formado em 1929, mudou-se para o Rio de Janeiro, a fim de fazer o curso preparatório para ingresso na Escola Militar do Realengo, objetivo alcançado em 1931. Não tendo conseguido atingir a média exigida pelo curso, foi rebaixado a soldado raso, ingressando, assim, na tropa. Em 1933, foi expulso da corporação por atividades políticas.
A aproximação do PCB se deu durante o período em que se encontrava na Escola Militar, tendo sido Grabois um dos primeiros membros do partido a desenvolver trabalho político junto aos militares. Em 1934, tornou-se o responsável nacional do setor de agitação e propaganda da Juventude Comunista. Nesse período, o PCB estava engajado na organização de um amplo movimento antifascista, o que redundaria na criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização que rapidamente se espalhou pelo país, congregando milhares de pessoas. Em novembro 1935, o PCB liderou um levante contra o governo de Getúlio Vargas, o qual passaria à história como Intentona Comunista. Frustrado o movimento, o partido passou a ser duramente perseguido, o que ocasionou a prisão da maior parte de seus líderes. Maurício Grabois, que fora um dos dirigentes políticos da insurreição, passou a viver em absoluta clandestinidade. Por ter escapado da prisão em 1935, tornou-se um dos principais responsáveis pela rearticulação do PCB nos anos seguintes. Foi preso em Minas Gerais, onde procurava reorganizar o partido, permanecendo detido no Rio de Janeiro entre abril de 1941 e julho de 1942.
Ao sair da prisão, Grabois engajou-se na Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP), que ainda tentava rearticular o partido. Após o difícil trabalho de encontrar os militantes e dirigentes dispersos pelo país, a CNOP conseguiu realizar uma conferência, em agosto de 1943, na qual foi eleito um Comitê Central e indicado o nome de Luis Carlos Prestes para Secretário Geral. Maurício Grabois assumiu, na Comissão Executiva, a secretaria de divulgação e propaganda, setor de atuação ao qual continuaria ligado nas décadas seguintes. Nessa área de atuação, destaca-se o seu trabalho de editor da revista Continental, do jornal A Classe Operária e a fundação das editoras Horizonte e Vitória nos anos 1940.
Com o fim da guerra e a redemocratização do país, o PCB colheu os resultados da política de união nacional. Entre 1945 e 1947, momento em que teve atuação legal, o partido teve um grande crescimento político e orgânico. Na eleição de 2 de dezembro de 1945, elegeu um senador e 14 deputados federais. Entre estes, estava Mauricio Grabois, que foi eleito pelo Distrito Federal com um total de 15.243 votos, sendo escolhido como líder da bancada dos comunistas na Constituinte. Durante os trabalhos, Grabois se destacou pela defesa da democratização plena da constituinte, o que exigia a imediata revogação da constituição anterior, sobretudo no que se referia às normas de funcionamento da Câmara Federal.
Em maio de 1947, chegou ao fim o curto período de atuação legal do PCB, quando o Tribunal Superior Eleitoral cassou o seu registro. Em janeiro do ano seguinte, foi a vez dos mandatos dos deputados eleitos pelo partido serem cassados. Grabois ocupou a tribuna da Câmara e afirmou que não havia outras palavras a pronunciar se não que estava em face de uma “assembléia que se dobra servilmente aos imperativos e à vontade do grupo que se encontra encastelado no Catete, levando o país para a catástrofe e para o caos”. A reposta do PCB à perseguição sofrida foi o abandono da política de união nacional e o enfrentamento contra o governo, pregando a sua destituição.
Com a perseguição sofrida e após uma curta detenção sofrida em abril de 1948, Mauricio Grabois voltou novamente à clandestinidade. Nesse período, continuou responsável pelo setor de propaganda e divulgação do partido. Em meados de 1955, viajou, chefiando uma delegação de cerca de cinqüenta militantes para a URSS, a fim de participar de um curso de formação política de longa duração.
Quando retornou ao Brasil, no início de 1957, o PCB encontrava-se em ebulição devido ao impacto causado pelo XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), no qual foram denunciados os crimes praticados por Josef Stalin e apresentadas propostas de profundas modificações na política dos comunistas.
Durante o debate no PCB, Mauricio Grabois ficou ao lado da maior parte do núcleo dirigente, que propunha uma discussão restrita sobre os problemas suscitados pelo congresso do PCUS, contra aqueles que acreditavam ser necessária uma crítica radical ao legado de Stalin. Em 1957, Grabois perderia espaço político na estrutura partidária ao ser identificado como parte do grupo “sectário e dogmático”, tendo sido afastado da Comissão Executiva.
A partir de 1958, Maurício Grabois se posicionaria criticamente em relação à nova orientação partidária, cujo símbolo maior passou a ser a Declaração de Março, que enfatizava o caráter progressista do capitalismo brasileiro e propunha uma frente política com a burguesia como caminho pacífico para a revolução brasileira. Nos debates preparatórios para o V Congresso, que foi realizado em agosto de 1960, Grabois expôs a sua divergência através da publicação do artigo “Duas concepções, duas orientações políticas”. O congresso, no entanto, referendou as teses da direção e Grabois foi afastado do Comitê Central e enviado para exercer suas atividades no Comitê Regional do Rio de Janeiro.
No ano seguinte, participaria da oposição às modificações que a direção do PCB fez em seus estatutos. Juntamente com outros dirigentes, tais como João Amazonas, Pedro Pomar, Carlos Danielli, Ângelo Arroyo, Lincol Oest e Calil Chade, foi expulso do partido. Em fevereiro de 1962, os expulsos prepararam uma Conferência Nacional Extraordinária e anunciaram a “reorganização” do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
A nova agremiação passou a publicar o jornal A Classe Operária, tendo Maurício Grabois assumido a função de diretor de redação. Em seus primeiros anos de existência, o PCdoB atuou basicamente a partir da publicação de seu jornal, no qual apresentava as suas propostas políticas. Ao mesmo tempo, buscava aproximar-se de centros revolucionários internacionais. Nesse sentido, entre 1962 e 1964, Grabois visitou Cuba, China e Albânia. Impressionado com a experiência cubana, foi o tradutor e escreveu o prefácio para a primeira edição no Brasil do livro de Che Guevara, A guerra de guerrilhas, em fevereiro de 1962.
Com o golpe de 1964, o PCdoB passou a procurar novas propostas de atuação diante da realidade ditatorial no país. Assim, no decorrer da segunda metade da década de 1960, foi sendo construído o projeto de luta armada contra a ditadura militar. Mauricio Grabois esteve diretamente envolvido na preparação da guerrilha do Araguaia, sendo um de seus dirigentes políticos. A implantação efetiva iniciou-se em dezembro de 1967, quando Grabois chegou ao sul do Pará. Desse momento até o final de 1971, foi se fixando na região o núcleo que seria responsável pela luta guerrilheira.
O Exército descobriu a presença dos guerrilheiros e iniciou, em 1972, a campanha de aniquilação. No momento em que se iniciou o combate, havia na região 69 militantes, divididos em três destacamentos sob os comandos de João Borges Ferreira, Osvaldo Orlando da Costa e Paulo Mendes Rodrigues. No comando geral, estava a Comissão Militar, composta por Maurício Grabois, Ângelo Arroyo, João Carlos Haas Sobrinho, Gilberto Olímpio e Líbero Giancarlo Castiglia.
Apesar de todos os percalços, os guerrilheiros conseguiram resistir por aproximadamente dois anos ao cerco imposto pelo exército. Este precisou de três campanhas até conseguir eliminar todos os militantes. A última delas teve início em outubro de 1973 e, entre janeiro e março de 1974, conseguiria destruir o núcleo guerrilheiro. O resultado final foram 76 mortos, sendo 59 militantes do partido e 17 recrutados na região. Mauricio Grabois foi apanhado pelo exército no dia 25 de dezembro de 1973. Primeiro recebeu um tiro no braço e, ao tentar reagir, foi alvejado pelos militares, morrendo em local até hoje não identificado.
Cómo citar esta entrada: Rodrigues, Jean (2020), “Grabois, Mauricio”, en Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. Disponible en https://diccionario.cedinci.org