AMAZONAS DE SOUZA PEDROSO, João. (Belém, 1/01/1912 – São Paulo, 27/05/).
Militante e dirigente político do Partido Comunista do Brasil (PCB), entre 1935 e 1961, e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) entre 1962 e 2002. Foi deputado Constituinte em 1946, cumprindo mandato até 1948. Nomes de guerra: João Amarante, Sertão, Cid, Mr. Pereira.
Nasceu em Belém, capital do Pará, em primeiro de janeiro de 1912. Era filho de João de Souza Pedroso, pequeno comerciante português que chegou ao Brasil no início do século XX, e de Raymunda Leal, nascida na Ilha do Marajó. Tinha três irmãs, Laura, Semíramis e Maria do Nazaré; e quatro irmãos, Orlando, Altino, Reynaldo e Pedro.
Com a falência de uma pequena padaria da família e morte precoce do pai acometido por tuberculose, João Amazonas trabalhou como ajudante em uma fábrica de facas e, em seguida, no setor de exportação da Fábrica Palmeira, maior empresa do ramo alimentício de Belém. Após terminar o grupo escolar, concluiu um curso na Escola Prática de Comércio.
As suas atividades políticas se iniciaram no contexto aberto pela revolução de 1930. Então com 18 anos, Amazonas escreveu uma carta ao Delegado do Ministério Trabalho denunciando a Fábrica Palmeira por não cumprir a recente legislação que reduzia a jornada de trabalho para oito horas diárias. O ingresso no PCB se deu em 1935, por intermédio de sua aproximação da Aliança Nacional Libertadora (ANL). A primeira tarefa partidária foi a criação do “Sindicato dos Trabalhadores em Fábricas de Biscoitos, Massas Alimentícias, Chocolate e Semelhantes de Belém”, o que rendeu ao militante a sua primeira prisão política.
Com o fechamento da ANL, em julho de 1935, e a tentativa frustrada de um levante armado liderado pelo PCB no mês de novembro, a repressão se abateu sobre os comunistas em todo o país. No Pará, João Amazonas foi preso no início de 1936, ficando pouco mais de um ano na cadeia. Julgado e absolvido em junho de 1937, entrou para a clandestinidade com a implantação da ditadura do Estado Novo, até sofrer nova prisão em setembro 1940. Dessa vez não esperou o trâmite da justiça e conseguiu fugir da cadeia juntamente com outros membros do partido no dia 5 de agosto de 1941. Após uma tortuosa viagem pelas regiões norte e centro-oeste, chegou ao Rio de Janeiro 48 dias após a fuga.
Com as perseguições sofridas no Estado Novo, o PCB estava praticamente desarticulado. Nessa situação, foi criada uma Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP). Integrado à CNOP ao chegar ao Rio de Janeiro, João Amazonas teve a incumbência de viajar por vários Estados, procurando retomar o contato com os militantes comunistas. No dia 27 de agosto de 1943, foi realizada a II Conferência Nacional do PCB, na qual o partido foi reorganizado nacionalmente, momento em que João Amazonas passou a integrar o Comitê Central e a Comissão Executiva do partido.
O PCB colheu no pós-guerra os frutos da política de união nacional contra o fascismo. Na eleição de 2 de dezembro de 1945, teve 9% do total de votos. Elegeu um senador e 14 deputados. Entre estes, estava João Amazonas, que se elegeu pelo Distrito Federal com 13.379 votos. Amazonas participou dos trabalhos da Constituinte de 1946, atuou principalmente nos debates a respeito do direito de greve, da liberdade sindical e da Justiça do Trabalho, tendo apresentado 17 emendas. Em 1947, o PCB teve o registro cassado e, no ano seguinte, os mandatos de seus deputados.
No decorrer dos anos 1950, João Amazonas passou longos períodos na URSS. Na primeira estadia, entre 1953 e 1955, participou de um curso de formação política. Em 1957, mais uma vez retornaria ao país soviético em atividades partidárias. Não participou, portanto, diretamente do IV Congresso do PCB, realizado em 1954.
Além dos problemas internos, um evento internacional viria a servir como catalisador da crise latente no interior do PCB nos anos 1950: o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), realizado em 1956, no qual foram denunciados os crimes praticados por Josef Stalin. Destaca-se, neste debate, a atuação dos militantes que viriam a fazer parte da primeira Comissão Executiva do PCdoB, entre os quais estava João Amazonas. Durante as discussões, o dirigente publicou os artigos “As massas, o indivíduo e a história” e “Salvaguardar a unidade do partido, primeiro dever do comunista”, cuja tônica era a defesa dos princípios partidários diante das críticas mais contundentes à sua estrutura.
Apesar do lugar central ocupado no início dos debates, João Amazonas perdeu espaço na estrutura partidária.
No Pleno de agosto de 1957, foi destituído da Comissão Executiva e enviado para atuar no Rio Grande do Sul. A partir desse momento, Amazonas faria duras críticas aos rumos da política do PCB, a começar pelo seu maior símbolo, a Declaração de Março de 1958. Em seguida, participaria do debate preparatório para o V Congresso do PCB, durante o qual se esforçaria, sem sucesso, em retomar o espaço político e o poder perdido em 1957.
Em agosto de 1961, o Comitê Central modificou os estatutos partidários para facilitar o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O nome do partido passou a ser Partido Comunista Brasileiro, mantendo, porém, a mesma sigla (PCB). Nesse momento, João Amazonas, juntamente com outros dirigentes, elaborou um documento de protesto, no qual denunciava tais medidas como a negação do partido revolucionário. Os dirigentes do PCB acusaram os principais responsáveis pelo documento de tentarem dividir o partido e os expulsaram. Em fevereiro de 1962, João Amazonas foi um dos principais responsáveis pela convocação de uma Conferência Nacional Extraordinária, a qual declarou a reorganização partidária sob a sigla PCdoB. Desde então, o nome de João Amazonas confunde-se com a história do PCdoB, do qual foi dirigente até a sua morte em 2002.
Entre o final dos anos 1960 e início da década seguinte, João Amazonas foi um dos principais dirigentes da guerrilha do Araguaia. Quando os militantes foram descobertos pelo exército, Amazonas estava no sudeste, participando de uma reunião do Comitê Central, o que fez com que ele não participasse diretamente dos combates. No início de 1974, a guerrilha havia sido liquidada. Em 1976, a polícia interceptou uma reunião em que se discutia a experiência guerrilheira e matou dois de seus dirigentes, o que praticamente desarticulou o partido no Brasil. João Amazonas, que deveria estar em tal reunião, escapou de ser preso por ter sido designado, inesperadamente, para participar de atividades políticas na Albânia.
Ao retornar do exílio francês em novembro de 1979, João Amazonas se engajou na luta pela Anistia. Nesse sentido, participou da campanha pelas eleições diretas e, em seguida, apoiou a candidatura de Tancredo Neves no Colégio eleitoral. Com a morte de Tancredo, Amazonas avaliava que era necessário sustentar o governo de José Sarney diante dos ataques reacionários das forças remanescentes do regime militar. Rompeu com o governo em 1986, quando avaliou que este não mais representava os interesses progressistas da nação.
No início dos anos 1990, o PCdoB viveu os efeitos da crise mundial do comunismo. João Amazonas foi, desde o início, um duro crítico da política de abertura de Mikhail Gorbachev. Afirmava que a Perestroika era uma nova versão do revisionismo iniciado por Khruschev. Em agosto de 1990, quando houve uma tentativa de golpe de Estado na União Soviética contra o governo de Gorbatchev, João Amazonas o qualificou de “acontecimento alvissareiro”. Tais afirmações causaram divergências no interior do PCdoB e vários militantes criticaram a posição do dirigente e do partido diante do evento.
A partir da segunda metade dos anos 1990, o PCdoB experimentou um relativo crescimento político. Durante todo o percurso, João Amazonas teve um papel importante na elaboração da linha política. Após apoiar as sucessivas candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva para presidência, o PCdoB chegou ao governo juntamente com a coligação que apoiou Lula na eleição de 2002.
Depois de 66 anos de militância política, João Amazonas pediu afastamento do cargo de presidente do PCdoB durante o X Congresso partidário, realizado em 2001, sendo substituído por Renato Rabelo. Amazonas continuou sendo o presidente de honra do partido. Em 27 de maio de 2002, ele morreu em São Paulo. Deixou, como último pedido, que as cinzas de seu corpo fossem espalhadas na região do Araguaia, o que foi feito no dia 21 de junho de 2002. Realizou-se uma cerimônia na cidade de Xambioá para lançar as suas cinzas, ao mesmo tempo em que se anunciou a construção de um memorial sobre a guerrilha naquele local.
Obra
- Socialismo: ideal da classe operária, aspiração de todos os povos, São Paulo, Anita Garibaldi, 1983.
- Os desafios do socialismo no século XXI,São Paulo, Anita Garibaldi, 1999.
- O revisionismo chinês de Mao Tse-tung, São Paulo, Anita Garibaldi, 1981.
Cómo citar esta entrada: Rodrigues, Jean (2019), “Amazonas De Souza Pedroso, João”, en Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. Disponible en https://diccionario.cedinci.org