COSTA, Armando (Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, 05/05/1933 – Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, 09/04/1984).
Oriundo da geração que nos anos 1960 desenvolveu as relações entre arte, conscientização crítica e luta política no Brasil, Armando Costa foi um dramaturgo com ampla atuação no teatro, no cinema e na televisão. Dono de uma característica singular, a de quase sempre escrever em parceria com outros autores, Costa envolveu-se com experiências teatrais voltadas para a resistência contra a opressão, a exemplo do Centro Popular de Cultura (1961-1964) e do Grupo Opinião (1964-1967). Como um roteirista versátil de cinema e de televisão, destacou-se nas décadas de 1970 e 1980 pela escrita plural dentro do gênero da comédia, participando da criação de obras com apelo popular e críticas ao conservadorismo moral e político. Raramente destacado em estudos sobre a história cultural do Brasil, foi um artista alheio ao autorismo pessoal, mas que contribuiu decisivamente para uma dramaturgia de oposição à ditadura militar (1964-1985).
Armando Costa iniciou a sua trajetória como dramaturgo entre 1961 e 1962, quando vinculou-se ao Centro Popular de Cultura (CPC) localizado na cidade do Rio de Janeiro. Integrante do setor teatral do CPC, grupo que pretendia construir uma arte engajada, popular e anti-imperialista, Costa realizou suas primeiras experiências dramatúrgicas dentro de um projeto cultural de bases organicamente marxistas. Como parte do esforço cepecista para levar a encenação teatral às ruas, transformando o espaço público em agit-prop que convocasse as massas à luta nacionalista e revolucionária, o autor escreveu, de 1962 a 1963, narrativas curtas como O petróleo ficou nosso e Clara do Paraguai. Na mesma época, com o grupo também envolvido na criação de peças para montagem nos palcos, foi um dos vários autores de Auto dos 99% (1962), sátira de linha brechtiana a denunciar o elitismo presente na universidade brasileira. Devido às especificidades existentes no projeto do CPC, no qual muitas obras artísticas eram desenvolvidas de modo coletivo, é provável que Costa tenha contribuído naquele momento com a escrita de outros textos teatrais voltados para a militância política.
Com a dissolução do CPC em decorrência do golpe civil-militar de 1964, que implantou no Brasil um regime antidemocrático de longa duração, o teatro engajado existente no Rio de Janeiro reorganizou-se como forma de resistência política. Tornando-se um dos primeiros atos artísticos de repúdio à ditadura, escrito conjuntamente por Armando Costa, Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho (Vianinha), o show Opinião (1964) materializou, em meio às suas falas, ironias e canções, o desejo candente por uma frente de luta capaz de confrontar a opressão autoritária. O sucesso comercial e simbólico da peça, rapidamente alçada a marco cultural, estimulou a criação de uma nova companhia teatral que desse continuidade a um projeto coletivo de resistência atravessado pelo humor, pela colagem textual e pela musicalidade como formas dinâmicas e populares de engajamento contra a ditadura. Surgido entre 1964 e 1965, o Grupo Opinião iniciou suas atividades com a montagem de Liberdade, Liberdade (1965), texto escrito por Millôr Fernandes e Flávio Rangel. Em 1966, com autoria de Vianinha e Ferreira Gullar, mas argumento originário de vários nomes, dentre os quais Armando Costa, João das Neves e Paulo Pontes, o Opinião encenou Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, peça brechtiana em livre diálogo com a poesia de cordel. Já em 1967, por meio de uma colagem de situações relacionadas aos conflitos da Guerra Fria e à ameaça nuclear, o autor uniu-se a Gullar e Antonio Carlos da Fontoura para a adaptação brasileira de A saída? Onde fica a saída? (1967), um texto original de Frederick Cock.
Central para o desenvolvimento da arte política em oposição à ditadura, veículo de criação e difusão da cultura nacional-popular em meio ao regime militar, o Opinião enfrentou, ainda no ano de 1967, dissonâncias internas que redefiniriam os seus caminhos criativos. Dispostos a prosseguir com um teatro acessível voltado para o humor como forma de resistência política, três dos principais integrantes do grupo decidiram deixá-lo para viver outras experiências. Orquestrada por Armando Costa e Vianinha, tendo Paulo Pontes como parceiro criativo, a fundação da companhia Teatro do Autor Brasileiro (TAB) resultaria na montagem de Dura lex sed lex no cabelo só gumex (1967), peça satírica em diálogo com o teatro de revista, na qual a personagem da Virgem Maria lida na Terra com inúmeros episódios relacionados às contradições da América Latina. Infelizmente, devido a dificuldades financeiras incontornáveis, o TAB fecharia as portas alguns meses após o seu surgimento. Em 1969, novamente a partir de uma parceria com Gullar, Pontes e Vianinha, o autor participou da criação da peça Brasil & cia., obra originária de uma encomenda realizada pelo ator Paulo Autran.
No final da década de 1960, a despeito de sua qualidade artística, o teatro brasileiro enfrentaria uma grave crise de dimensões estruturais. Em parte devido às violências sofridas no cenário ditatorial, incluindo a ampliação da censura ao campo artístico a partir de 1968, o circuito teatral viveria um retraimento de conteúdos voltados para a resistência e a conscientização política, além de uma diminuição significativa de arrecadamento financeiro. As perseguições autoritárias, que anteriormente já haviam proibido a montagem da peça Brasil pede passagem (1965), uma criação coletiva do Grupo Opinião com participação de Armando Costa, tornavam-se mais agudas no novo contexto histórico, atingindo diretamente a continuidade de trajetórias como as de Vianinha e Dias Gomes. Ainda que Costa há tempos diversificasse suas atividades para além da escrita dramatúrgica, atuando também como diretor artístico nas encenações de Brasil, versão brasileira (1962), Samba pede passagem (1965), Telecoteco opus n. 1 (1966) e Meia volta vou ver (1967), o fato é que se tornava complicado sobreviver financeiramente a partir de trabalhos culturais relacionados apenas ao campo teatral. Tais circunstâncias, somadas ao desejo de Costa em voltar-se para um fazer artístico menos impregnado pela militância diretamente política, implicariam mudanças fundamentais nos rumos por ele percorridos.
Entre 1969 e 1983, um dos caminhos trilhados pelo autor, na perspectiva de ampliar sua inserção cultural, esteve vinculado a atividades profissionais no campo cinematográfico. Versátil, trazendo consigo um amplo conhecimento em torno do fazer teatral, Costa experimentou, por cerca de quinze anos, diversas funções relacionadas à criação fílmica. As eventuais atuações como assistente de direção no filme Copacabana me engana (1969), de Antonio Carlos da Fontoura, ou como produtor e diretor de Minha namorada (1971), em parceria com Zelito Vianna, não devem, no entanto, encobrir o ramo principal de trabalho por ele desenvolvido no cinema: o de roteirista de longas-metragens ficcionais. Quase sempre escrevendo em conjunto com outras pessoas, característica singular de sua personalidade artística, Costa redigiu cerca de vinte roteiros no decorrer da vida, dialogando com os mais diversos gêneros da criação cinematográfica. No repertório deixado pelo autor, voltado principalmente para obras de viés comercial com fundo político, é possível encontrar filmes de cangaço como A vingança dos doze (1970, roteiro com Marcos Farias), policiais como Pedro Diabo ama Rosa Meia-Noite (1970, com Miguel Faria Júnior), o infantil O pica-pau amarelo (1973, com Geraldo Sarno), ou mesmo o longa-metragem histórico Batalha de Guararapes (1978, com Miguel Borges, Gustavo Dahl e Paulo Thiago).
Foi na comédia, entretanto, que Armando Costa obteve maior destaque no meio cinematográfico. De certo modo, esse gênero fílmico fluido, marcado por uma multiplicidade de estilos dramatúrgicos, garantiria ao autor a possibilidade de prosseguir com a criação de um humor crítico que vinha desenvolvendo desde os tempos do CPC. Em substituição às sátiras brechtianas ou às ironias a partir da cartilha marxista, traços recorrentes de seu teatro nos anos 1960, Costa deslocou-se, no cinema, para a escrita de comédias industriais, atravessadas por boa dose de erotismo, nas quais a dimensão crítica voltava-se para uma contestação à moralidade conservadora da sociedade brasileira. Uma das poucas peças que redigiu na década de 1970, Allegro Desbum (1973), nascida de mais uma parceria com Vianinha e posteriormente adaptada no longa-metragem Ainda agarro esta vizinha (1974), parece ter originado um estilo de humor ligeiro e popular, vinculado ao questionamento dos costumes morais e sexuais, que Costa experimentaria em vários filmes por ele roteirizados.
Essa guinada rumo a outras veredas cômicas, claramente perceptível no filme O bom marido (1978, roteiro com Antonio Calmon e Leopoldo Serran), alcançaria grande expressividade a partir da parceria criativa que o autor estabeleceu, em diversas oportunidades, com o ator e diretor Hugo Carvana. Os dois primeiros roteiros que Costa escreveu a pedido do cineasta, para os filmes Vai trabalhar, vagabundo (1973, redigido com o próprio Carvana) e Se segura, malandro (1978, com Serran e Carvana), concretizam a potência de certo humor comercial como reflexão crítica sobre o país. Para além das afiadas ironias dirigidas ao tradicionalismo moral, encarnadas por uma refutação brincalhona à “caretice” burguesa, as duas obras tratam a malandragem brasileira dentro de uma abordagem política, como força popular de sobrevivência contra os desmandos hierárquicos do poder. Já o terceiro e último projeto realizado em conjunto com Carvana, Bar Esperança, o último que fecha (1983, roteiro com Denise Bandeira, Euclydes Marinho, Martha Alencar e o próprio diretor do filme), se tornaria um marco cultural da redemocratização brasileira, um longa-metragem no qual a nostalgia da cultura boêmia em desaparecimento pulsa em conjunto com as expectativas futuras de um país às vésperas de sobrepujar a ditadura.
Nas décadas de 1970 e 1980, junto ao trabalho realizado no campo cinematográfico, Armando Costa também atuou, em diversas oportunidades, como roteirista de televisão. Em decorrência da crise vivida pelo teatro brasileiro no período mais repressivo do regime militar, o que gerou um retraimento financeiro e político no setor, diversos dramaturgos próximos ao ideário comunista viram-se diante da necessidade de buscar outros canais de expressão e de sobrevivência econômica. No início dos anos 1970, um dos principais meios por eles encontrado, espaço de comunicação que se afirmava dentro dos princípios norteadores da indústria cultural, seria justamente a televisão. Embora beneficiada por articulações políticas com a ditadura, a Rede Globo, emissora criada em 1965, tinha interesse em contratar dramaturgos de esquerda provenientes do teatro, uma vez que tal absorção seria garantia de trabalho criativo qualificado, previamente conhecido por parcelas de público, a possibilitar uma oportunidade de ampliação nos índices de audiência.
Entre as necessidades e interesses de uns e de outros, com autores comunistas buscando a continuidade de seus processos artísticos e a Globo tentando afirmar-se como rede televisiva hegemônica, foi construída uma parceria paradoxal e repleta de contradições. O sucesso de público alcançado por telenovelas escritas pelo comunista Dias Gomes, a exemplo de Bandeira 2 (1971-72) e O bem-amado (1973), certamente serviu como mais um estímulo para que a emissora decidisse, naquele momento, convidar outros dramaturgos de esquerda para trabalharem em seus projetos. Em 1973, após a criação de alguns roteiros bem-sucedidos para o programa Caso Especial, Vianinha seria contratado para repaginar a série de humor A grande família.
Criada no ano de 1972, inicialmente com direção de Milton Gonçalves e roteiros de Max Nunes e Roberto Freire, A grande família foi uma das primeiras tentativas da Rede Globo em experimentar uma aproximação com o gênero televisivo das sitcoms. Após o relativo insucesso da primeira temporada do programa, na qual a série não atingiu a audiência esperada pela emissora, Vianinha passou a coordenar a parte dramatúrgica do projeto com o intuito de adequá-lo ao gosto de um amplo público espectador. Para alcançar tal intento, remodelando o programa rumo a um diálogo mais intenso com a realidade social brasileira, o autor convidaria para trabalhar ao seu lado aquele que se tornou o maior companheiro criativo de sua vida. Provavelmente graças à sugestão de Vianinha, em 1973 a Rede Globo contrataria Armando Costa para atuar como roteirista. Dando continuidade a uma parceria que já durava anos, afora a amizade íntima, os dois redefiniram os caminhos narrativos de A grande família. A partir do segundo ano da série, o núcleo familiar dos Silva, antes bem posicionado economicamente, seria deslocado para uma condição social mais baixa, transformando-se em espelho cômico das inquietações que atravessavam a maior parte da população nacional. Para cada episódio do programa, por meio de um diálogo com a comédia de costumes, Vianinha e Costa desenvolveram roteiros nos quais dimensões políticas e afetivas conviviam como retrato das classes populares e médias do país. Ao mesmo tempo em que propunha críticas em torno dos costumes enviesados da família brasileira, além de reflexões sobre as promessas ilusórias do “milagre econômico” durante a ditadura, a série apresentava um estilo humorístico leve e palatável que acabaria obtendo grande repercussão de público. Após o falecimento precoce de Vianinha em 1974, Costa prosseguiria escrevendo roteiros de A grande família até 1975, ano em que a série foi cancelada pela Globo. Nos últimos meses de existência do programa, para dar prosseguimento aos trabalhos, ele contaria com outro parceiro também proveniente do teatro político: o dramaturgo Paulo Pontes.
Com o término de A grande família, Costa passou três anos sem um trabalho fixo de criação na Rede Globo. Mesmo tendo escrito um roteiro pontual para a emissora em 1976, quando redigiu com Paulo Pontes um capítulo para a minissérie Caso Verdade, apenas em 1979 ele voltaria a participar de um projeto mais ambicioso no campo da teledramaturgia. Nesse ano, como parte de uma equipe de roteiristas formada por Euclydes Marinho, Lenita Plonczynski, Manoel Carlos e Renata Palottini, Costa envolveu-se com a criação de um dos programas ficcionais mais celebrados da história da Globo. Exibido na grade da emissora entre maio de 1979 e dezembro de 1980, o seriado Malu mulher propunha-se, no gênero do drama, a retratar questões envolvendo a condição da mulher brasileira em um país no qual modernizavam-se os costumes morais e sexuais. Tendo como protagonista a socióloga Malu, separada do marido após anos de matrimônio, o programa acompanhava, a cada episódio, as situações enfrentadas pela personagem para afirmar-se como mulher forte e independente. Ao lado da filha de doze anos, Malu lidava não apenas com seus próprios desejos amorosos ou questionamentos em relação ao mundo conservador, mas também incorporava uma figura de rebeldia e afeto sempre disposta a amparar outras mulheres reprimidas pelo patriarcalismo. Temas como métodos anticoncepcionais, orgasmo feminino, a opção pelo aborto ou o mito da virgindade foram recorrentes nos capítulos da série, indicando uma escolha da Globo em tratar de assuntos considerados tabus em uma sociedade ainda sob vigência da ditadura militar.
Graças ao grande sucesso de público do programa, em 1981 a emissora decidiria seguir adiante com a realização de seriados voltados para o questionamento dos costumes. Com roteiros de Armando Costa, Bráulio Pedroso, Domingos Oliveira e Lenita Plonczynski, Amizade colorida nasceu com a proposta de ser uma espécie de versão masculina de Malu mulher. Na chave da comédia dramática, a série acompanhava os dias do fotógrafo de moda Edu, um galã machão que a cada episódio envolvia-se em situações que culminavam com críticas à sua masculinidade tradicional. Devido principalmente a problemas com a Censura existente no regime militar, que exigiu inúmeros cortes no programa, o projeto seria cancelado após a exibição de onze capítulos. Em meio ao insucesso dessa produção, Costa seguiu trabalhando como roteirista contratado pela Globo para a redação de textos sob encomenda. Além de participar da criação de esquetes cômicas para o humorístico Chico total (1981), ele escreveria alguns roteiros para a segunda série da emissora intitulada Caso verdade (1982-86), na qual eram adaptadas histórias reais a partir de cartas enviadas pelos telespectadores à Rede Globo.
Nas décadas de 1970 e 1980, apesar de ter trabalhado sobretudo com roteiros para cinema e televisão, Costa não deixou de lado algumas possibilidades de retorno ao campo teatral. Mais do que eventuais incursões na redação dramatúrgica para os palcos, a exemplo de Allegro Desbum (1973) ou da adaptação do livro de Luis Fernando Veríssimo, O analista de Bagé (1982), o autor encontraria no teatro aquele que se tornou um dos últimos grandes parceiros criativos de sua existência. Pelo menos desde 1975, Jô Soares já se fazia presente na vida de Armando Costa. Naquele ano, como parte da peça coletiva Feira do adultério ou (como cobiçar a mulher do próximo), com direção geral de Jô, o autor redigiu, em conjunto com Paulo Pontes, a narrativa curta de humor O repouso da guerreira. A proximidade entre os dois, provavelmente estimulada pelo fato de que ambos trabalhavam na Rede Globo, ganharia maior intensidade artística três anos depois. Ao lado de José Luiz Archanjo, Millôr Fernandes e do próprio Jô, Costa participaria da equipe de escritores e dramaturgos responsáveis pela criação da obra teatral intitulada Viva o Gordo, abaixo o regime (1978). Espetáculo de comédia, espécie de show de stand up acompanhado por uma banda musical, a peça tinha Jô Soares como grande protagonista, em performances divertidas nas quais ele se travestia de inúmeros personagens diferentes. Por meio de uma sucessão de esquetes curtos, a miscelânea de piadas, encenadas e contadas de forma rápida e dinâmica, envolvia os espectadores em uma série de temas diversos. Um humor ligeiro, com pitadas de grotesco e caricaturas sexuais, a comicizar o corpo gordo, a traição amorosa, a televisão ou o meio artístico, eventualmente tratando da situação política de um país que prosseguia refém da ditadura.
O triunfo de bilheteria da peça, que rapidamente caiu no gosto do público, resultaria, algum tempo depois, em dois projetos desenvolvidos por Jô Soares. De um lado, a realização de um dos maiores sucessos humorísticos da Rede Globo, o programa Viva o gordo (1981-87), e de outro a criação de uma segunda peça no mesmo estilo de stand up, Um gordoidão no país da inflação (1983), espetáculo com referências mais debochadas ao contexto político brasileiro e que contou com Armando Costa como parte da equipe de dramaturgia. Da parceria entre os dois ainda surgiria a peça narrativa Brasil, da censura à abertura (1980), escrita em conjunto com José Luiz Archanjo e Sebastião Nery, na qual o humor voltava-se para uma sátira à situação vivida pelo país naquele período de sua história.
Falecido no ano de 1984, pouco depois da morte de sua mãe, Costa segue sendo, em 2023, apenas uma nota de rodapé nos estudos dedicados à cultura brasileira durante a ditadura militar. Muito provavelmente devido ao fato de que nunca desenvolveu uma marca artística pessoal, sempre preferindo trabalhar a partir das autorias de seus inúmeros parceiros de criação, ele acabaria relegado a segundo plano nas pesquisas realizadas pelos campos acadêmico e jornalístico. Esse homem zeloso de sua privacidade, que concedeu poucas declarações públicas, mas foi peça fundamental entre as décadas de 1960 e 1980 para o desenvolvimento das relações entre arte e política no Brasil, hoje encontra-se ocultado pelas seleções e canonizações do conhecimento histórico. Com atuação em múltiplos suportes artísticos, encontrando sobretudo na pluralidade do humor um percurso como dramaturgo crítico ao conservadorismo moral e político, Costa ainda precisa ser devidamente descoberto em sua contribuição cultural. Que este verbete seja um passo para reparar a injustiça que cerca a trajetória do artista.
Nota: Abaixo, apresento a versão mais completa possível do trabalho desenvolvido por Armando Costa. Por uma questão de rigor histórico, a partir de pesquisas em referências bibliográficas e documentais, preferi inserir na listagem apenas as obras nas quais efetivamente aparece o nome do artista. Não é improvável a descoberta de outros trabalhos do autor a partir da realização de novas pesquisas. Nesta listagem das obras televisivas de Armando Costa, incluo apenas os roteiros que foram efetivamente filmados e transmitidos pela Rede Globo.
Obra
Artística (teatral)
- (com Antonio Carlos da Fontoura, Carlos Estevam Martins, Cecil Thiré, Marcos Aurélio Garcia e Vianinha) “Auto dos 99%”, Centro Popular de Cultura, 1962.
- “Brasil, versão brasileira”, direção, Centro Popular de Cultura, 1962.
- “O petróleo ficou nosso”, Centro Popular de Cultura, c. 1962-63.
- “Clara do Paraguai”, Centro Popular de Cultura, c. 1962-63.
- (com Paulo Pontes e Vianinha), Show “Opinião”, 1964.
- (criação coletiva), “Brasil pede passagem”, Grupo Opinião, 1965.
- (direção em conjunto com João das Neves e roteiro em conjunto com Sérgio Cabral e Vianinha), “Samba pede passagem”, Grupo Opinião, 1965.
- (com Denoy de Oliveira, Ferreira Gullar, João das Neves, Paulo Pontes, Pichin Plá, Tereza Aragão e Vianinha), “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, Grupo Opinião, 1966.
- “Telecoteco opus n. 1”, direção, Grupo Opinião, 1966.
- “Meia volta vou ver”, direção, Grupo Opinião, 1967.
- (idealização e roteiro em conjunto com Paulo Pontes e Vianinha; produção da montagem original em conjunto com Agostinho Conduru e Vianinha), “Dura lex sed lex no cabelo só gumex”, Teatro do Autor Brasileiro, 1967.
- (adaptação em conjunto com Antonio Carlos da Fontoura e Ferreira Gullar a partir de original de Frederick Cock), “A saída? Onde fica a saída?”, Grupo Opinião, 1967.
- (com Ferreira Gullar e Paulo Pontes), “Brasil & cia.”, 1969.
- (com Vianinha), “Allegro Desbum”, 1973.
- (com Paulo Pontes, de peça curta inserida na obra coletiva “Feira do adultério”), “O repouso da guerreira”, 1975.
- (com Jô Soares, José Luiz Archanjo e Millôr Fernandes), “Viva o gordo, abaixo o regime”, 1978.
- (com Jô Soares, José Luiz Archanjo e Sebastião Nery), “Brasil, da censura à abertura”, 1980.
- (adaptação para os palcos do livro homônimo de Luis Fernando Veríssimo), “O analista de Bagé”, 1982.
- (com Jô Soares), “Um gordoidão no país da inflação”, 1983.
Artística (cinema)
- (com direção de Marcos Farias), “Cinco vezes favela”, longa-metragem, ficção, direção coletiva de Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges, participação no elenco de apoio do episódio “Um favelado”, 1962.
- “Canalha em crise”, longa-metragem, ficção, direção de Miguel Borges, participação no elenco de apoio, 1963.
- “Os mendigos”, longa-metragem, ficção, direção de Flávio Migliaccio, participação no elenco de apoio, 1963.
- (argumento em conjunto com Antonio Carlos da Fontoura e Leopoldo Serran; assistência de direção em conjunto com Gilberto Macedo; participação no elenco de apoio), “Copacabana me engana”, longa-metragem, ficção, direção de Antonio Carlos da Fontoura, 1969.
- (argumento próprio; roteiro em conjunto com Hugo Kusnet), “Tempo de violência”, longa-metragem, ficção, direção de Hugo Kusnet, 1969.
- (com Roberto Pires), “Em busca do su$exo”, longa-metragem, ficção, direção de Roberto Pires, 1970.
- (com Miguel Faria Júnior), “Pedro Diabo ama Rosa Meia-noite”, longa-metragem, ficção, direção de Miguel Faria Júnior, 1970.
- (com Marcos Faria), “A vingança dos doze”, longa-metragem, ficção, direção de Marcos Faria, 1970.
- (com Zelito Vianna do episódio “O apartamento”; roteiro geral com Zelito Vianna), “O doce esporte do sexo”, longa-metragem, ficção, direção de Zelito Vianna, argumento, 1971.
- (com Eduardo Coutinho), “Faustão”, longa-metragem, ficção, direção de Eduardo Coutinho, argumento , 1971.
- (com Zelito Vianna), “Minha namorada”, longa-metragem, ficção, direção de Zelito Vianna, produção, direção, argumento e roteiro, 1971.
- (com Cecil Thiré e João Bettencourt), “A viúva virgem”, longa-metragem, ficção, direção de Pedro Carlos Rovai, roteiro, 1972.
- (com Geraldo Sarno), “O pica-pau amarelo”, longa-metragem, ficção, direção de Geraldo Sarno, roteiro, 1973.
- (com Hugo Carvana), “Vai trabalhar, vagabundo”, longa-metragem, ficção, direção de Hugo Carvana, roteiro, 1973.
- “Você sempre encontra o sol no final do caminho”, curta-metragem, não ficção, direção de Bartho Andrade, roteiro, 1973.
- (com Vianinha), “Ainda agarro esta vizinha”, longa-metragem, ficção, direção de Pedro Carlos Rovai, 1974.
- (roteiro do episódio “Roy, o gargalhador profissional”; argumento do episódio “O Ibrahim do subúrbio”), “O Ibrahim do subúrbio”, longa-metragem, ficção, direção de Astolfo Araújo e Cecil Thiré, 1976.
- (com Hugo Carvana e Leopoldo Serran), “Se segura, malandro”, longa-metragem, ficção, direção de Hugo Carvana, 1977.
- (com Gustavo Dahl, Paulo Thiago e Miguel Borges), “Batalha de Guararapes”, longa-metragem, ficção, direção de Paulo Thiago, 1978.
- (com Leopoldo Serran; roteiro em conjunto com Antônio Calmon, Leopoldo Serran, Pedro Carlos Rovai e Silvan Paezzo), “Nos embalos de Ipanema”, longa-metragem, ficção, direção de Antônio Calmon, 1978.
- (com Antônio Calmon e Leopoldo Serran), “O bom marido”, longa-metragem, ficção, direção de Antônio Calmon, 1978.
- (com Cecil Thiré, Paulo Coelho e Pedro Carlos Rovai), “Amante latino”, longa-metragem, ficção, direção de Pedro Carlos Rovai, 1979.
- (com Leo Benvenutti, Paolo Villagio, Piero di Bernardi e Leopoldo Serran), “O golpe mais louco do mundo”, longa-metragem, ficção, direção de Luciano Salce, 1981.
- (com Denise Bandeira, Euclydes Marinho, Hugo Carvana e Martha Alencar), “Bar Esperança, o último que fecha”, longa-metragem, ficção, direção de Hugo Carvana, 1983.
Outro (televisão)
- (com Vianinha e Paulo Pontes a partir da segunda temporada), “A grande família”, seriado ficcional, direção-geral da segunda temporada em diante por Paulo Afonso Grisolli, 1973-75.
- (com Paulo Pontes para a minissérie “Caso verdade”), “Carnaval – em cima da hora”, episódio de minissérie ficcional, direção de Fernando Peixoto e Gonzalo Blota, 1976.
- (com Euclydes Marinho, Lenita Plonczynski, Manoel Carlos e Renata Palottini), “Malu mulher”, seriado ficcional com 76 episódios, direção de Daniel Filho, Dennis Carvalho e Paulo Afonso Grisolli. Direção geral de Daniel Filho, 1979-80.
- (com Bráulio Pedroso, Domingos Oliveira e Lenita Plonczynski), “Amizade colorida”, seriado ficcional com 11 episódios, direção de Ary Coslov, Dennis Carvalho e Walter Campos. Direção artística de Paulo Afonso Grisolli, 1981.
- (com Arnaud Rodrigues, Marcos César, Mário Tupinambá, Nani e Ziraldo), “Chico total” programa humorístico, direção de Eduardo Sidney e Zelito Vianna, 1981.
- (roteiro para a série “Caso verdade”), “A hora e a vez de Germano da Hora”, 1982, episódio de série ficcional, direção de Walter Campos.
- (roteiro para a série “Caso verdade”), “Um golpe errado”, episódio de série ficcional, direção de Walter Campos, 1983.
- (roteiro para a série “Caso verdade”), “Olinda, vem cantar”, episódio de série ficcional, direção de Milton Gonçalves, 1983.
- (roteiro para a série “Caso verdade”), “O pai que era mãe”, episódio de série ficcional, direção de Cláudio Cavalcanti, 1983.
- (roteiro para a série “Caso verdade”), “É hoje”, episódio de série ficcional, direção de Henrique Martins, 1984.
Cómo citar esta entrada: Cardenuto, Reinaldo (2023), “Costa, Armando”, en Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. Disponible en https://diccionario.cedinci.org.