ALVES, Rubem Azevedo (Dores da Boa Esperança-MG, Brasil, 15/09/1933 – Campinas-SP, Brasil, 19/07/2014)
Teólogo, filósofo, psicanalista, escritor, professor na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Filho de Herodiano Alves do Espírito Santo e Carmen de Azevedo Alves, e irmão mais novo de Ismael, Murilo e Ivan, Rubem Alves nasceu na cidade de Dores da Boa Esperança (estado de Minas Gerais ), em 1933, no momento histórico em que sua família, depois de haver experimentado muitos anos de prosperidade econômica, vivia as consequências da falência dos negócios em decorrência da quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929, e da queda vertiginosa das exportações do café brasileiro para os EUA.
De espírito empreendedor e com objetivos de recuperação econômica, Herodiano se entregou à atividade comercial, levando a família a se mudar algumas vezes de uma cidade para outra. A partir de 1945, morando no Rio de Janeiro, então capital da República, Rubem Alves experimentou o sentimento de ser diferente de seus colegas de escola (pelo sotaque e pela pobreza) – condição reforçada pelas próprias crianças de seu novo convívio. Descobriu-se sozinho, em situação de anomia, uma vez que seus novos outros significantes não o incluíam no mundo deles.
De sua primeira infância em Minas Gerais, Rubem Alves guardava na memória afetiva as relações com a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), pois em Lavras – em terras do avô de Carmen (mãe de Rubem Alves) – foi instalado por missionários o Instituto Presbiteriano Gammon. Inicialmente, fundado como Colégio Internacional, na cidade de Campinas (estado de São Paulo), em 1869, foi transferido para o sul de Minas Gerais em decorrência da febre amarela, cujo ápice ocorreu na cidade paulista no ano de 1889. Não por acaso, mas por indicação de amigos presbiterianos, no Rio de Janeiro (bairro de Botafogo), na mesma Rua da Passagem, estavam a casa da família de Rubem Alves e um templo da IPB. A religião serviu de refúgio para Rubem Alves.Anos depois de tais acontecimentos, no livro Dogmatismo e tolerância (1982), Rubem Alves mostrou como o mundo protestante – presbiteriano, no caso dele – é construído e mantido pela utilização correta de certas palavras (a ortodoxia).
«Que palavras os protestantes usam? Deus, céu, inferno, salvação, Jesus Cristo, conversão, santificação, tentação, o crente, o mundo, pecado, confissão, oração – aqui estão algumas delas. E quando são usadas, um universo se constitui.
É este universo, assim constituído, que forma o mundo protestante. Ele é sagrado. Tem de ser preservado. Os neófitos passam pela cuidadosa preparação que os habilita ao jogo linguístico».
Mais do que uma pessoa religiosa, inconscientemente, Rubem Alves havia se tornado um fundamentalista, no sentido de quem atribui a suas próprias crenças um caráter último, com desdobramentos para a eternidade – e que só enxerga no outro alguém a ser convertido. “E para quem quer que tenha encontrado esta religião o caminho natural a seguir é o de tornar-se um apóstolo da sua verdade. Assim, fui para o seminário”, é este o registro do autor no livro O enigma da religião (1975), no capítulo intitulado “Do paraíso ao deserto: reflexões autobiográficas”. Chegou a Campinas, em 1953, para cursar teologia no Seminário Presbiteriano do Sul (SPS).
A crítica bastante segura, contundente e pertinente que Rubem Alves construiu a respeito do protestantismo no Brasil, que o levou a romper com a IPB em 1970, não o impediu de manter ativa em sua vida e obra o espírito protestante. Em forma de prelúdio às “confissões de um protestante obstinado”, no livro Dogmatismo e tolerância (1982), escreveu Rubem Alves: “sou protestante, sou porque fui”.
Por sua formação protestante, portanto, Rubem Alves enfatizou na produção bibliográfica e militância pastoral a “teologia da graça” – ou da “salvação pela graça” –, que liberta o ser humano da insegurança e preocupação com o post mortem e possibilita que as ocupações e as pulsões se dirijam para a vida. De modo que a reflexão alvesiana nunca consistiu num conjunto de afirmações propostas somente pela razão, independentemente da história do corpo do sujeito e dos desafios enfrentados por ele. Outro elemento do protestantismo muito significativo para Rubem Alves foi o fato de colocar as autoridades constituídas em função da consciência individual: o sacerdócio comum dos fiéis. Assim, a autoridade eclesiástica pode deixar de ser elemento de repressão.
São pontos que revelam a subversão que Rubem Alves respeitava e amava no espírito do protestantismo. Em contrapartida, reconhecia também que, uma vez institucionalizado, o protestantismo se vê preso às malhas da organização, com tendências ao dogmatismo, à repressão e ao fundamentalismo, características tão própria das igrejas e denominações do protestantismo histórico ou tradicional no Brasil. Não por acaso, a metáfora da gaiola é recorrente no corpus bibliográfico de Rubem Alves, em obras de teologia, educação, ciência, dentre outras áreas, com destaque para a estória infanto-juvenil A menina e o pássaro encantado (1986).A fúria contra os estragos causados pela absolutização da verdade, de acordo com o modus operandi religioso, Rubem Alves estendeu também ao saber científico e educacional. Em Conversas com quem gosta de ensinar (1980/1981), explica que a postura do fundamentalista levou sua luta não somente contra o que pode ser feito em nome das verdades da religião, mas contra toda forma de dogmatismo: “Minha experiência religiosa hipertrofiou meu faro por dogmatismos, que detesto com ódio absoluto”. Na ênfase que dá à sensibilidade própria da experiência, pode-se enxergar, ainda que de longe ou indiretamente, um certo puritanismo (ou pietismo) metamorfoseado, mas como marca que ficou na carne, a incomodar o autor em todas as fases de sua produção acadêmica – nas mais avançadas, por exemplo, a preocupação com a emoção se configurou em questão de vida ou morte.
Na chegada de Rubem Alves ao Seminário, algo fez toda diferença em sua vida, o fato de ter sido aluno de Richard Shaull. No texto “O Deus do furacão”, publicado no livro De dentro do furacão: Richard Shaull e os primórdios da Teologia da Libertação (1985), encontra-se o seguinte relato:
«Chegamos juntos ao mesmo seminário, Campinas, no mesmo ano de 1953. Eu era calouro e estava cheio de certezas. O Shaull era professor e vinha cheio de perguntas. Claro que eu não suspeitava que em breve minhas certezas cairiam por terra, senão eu teria fugido. Uma das ilusões de quem tem certezas é precisamente esta: que as suas ideias não mudarão nunca, por serem verdadeiras e estarem destinadas à eternidade».
Shaull foi o teólogo (professor no SPS) que marcou toda uma geração de seminaristas presbiterianos e, de modo mais amplo, boa parte da juventude presbiteriana no Brasil. Provocou rupturas e transformações imensuráveis, ao colocar o pensamento e a prática daqueles jovens em contato com a “teologia da revolução” – que não deve ser associada necessariamente ao materialismo histórico e dialético de Karl Marx. Trata-se, de fato, de uma teologia que demonstra a necessidade de se perceber a presença de Deus fora dos limites dos templos, das igrejas ou denominações institucionais, das gaiolas em que Deus foi aprisionado. Deus está no mundo, no meio das gentes, preferencialmente, das mais necessitadas.
Shaull e Rubem Alves, bem como todos os “conspiradores” (assim eram conhecidos os discípulos de Shaull no SPS) da mesma geração, viveram a crise dos anos 1950 no Brasil, marcados por grande convulsão intelectual nos meios evangélicos. Momento em que a intensificação do processo de industrialização e urbanização contribuíram para a tomada de consciência da miséria de grande parte da classe trabalhadora e do atraso econômico do país em relação às economias capitalistas centrais.
As lideranças dos movimentos de juventude – dentre elas, Rubem Alves – e também de outros estratos da IPB foram se tornando aos poucos mais sensíveis a novas ideias e práticas: o ideal ecumênico, a nova preocupação litúrgica, os estudos bíblicos em estilo mais preocupado com a realidade social. Um marco de todo o espírito (como mentalidade e prática discursiva) daquela época foi a “Conferência do Nordeste: Cristo e o processo revolucionário brasileiro”, ocorrida em 1962, da qual o jovem Rubem Alves tomou parte.
Por óbvio, as forças conservadoras e reacionárias da instituição religiosa, a IPB, passaram a agir – contra os voos dos pássaros que ousavam sair da gaiola. O golpe civil-militar de 1964 no Brasil, consolidado segundo sua própria lógica em favor da tradição (família e propriedade) e contra os riscos do comunismo, de certo modo, foi assimilado pela IPB e sustentado por ela. A história de Rubem Alves com a Teologia da Libertação está relacionada com a experiência do exílio no período da ditadura militar, haja vista a perseguição interna que passou a sofrer na IPB: havia denúncias contra ele nos concílios eclesiásticos, baseadas em investigação de seu pensamento, vida e obra.
Vivendo com Lídia Nopper, com quem se casou em 7 de fevereiro de 1959, e pai de seus dois primeiros filhos, Sérgio Nopper Alves (nascido aos 10 de dezembro de 1959) e Marcos Nopper Alves (nascido aos 17 de julho de 1962), Rubem Alves foi sozinho aos EUA para obtenção do título de Mestre em Teologia Sacra, que se concretizou aos 19 de maio de 1964, no Union Theological Seminary, com a dissertação “A Theological Interpretation of the Meaning of the Revolution in Brazil”.
De volta ao Brasil, vivia como pastor presbiteriano em Lavras (estado de Minas Gerais), quando se viu obrigado a sair novamente do país com toda a família, aproveitando a oportunidade para um pesquisa de doutoramento, no período 1965 a 1968, em contexto de exílio, atendendo a um convite combinado entre a United Presbyterian Church e o Princeton Theological Seminary. Assim, Rubem Alves foi um dos primeiros e principais fundadores do que veio a ser a Teologia da Libertação (em sentido estrito). Sua tese de doutoramento defendida em 1968 tinha como título “Towards a Theology of the Liberation” e foi publicada como livro no ano seguinte com o título “A Theology of Human Hope”, por decisão editorial marcada pela influência da teologia da esperança de Jürgen Moltmann naquele período. No Brasil, o livro foi publicado mais tarde, em 1987, com o título Da esperança (pela Editora Papirus, de Campinas); e, mais recentemente, destaca-se a publicação, em 2019, do mesmo livro – com outro título: Por uma teologia da libertação –, numa parceria da Editora Siano, de Juiz de Fora (Minas Gerais), com a Editora Recriar, de São Paulo.A inspiração para a obra brotou de seu próprio corpo, em meio a dores pessoais e familiares experimentadas nos EUA, por imposição da ditadura militar e do regime de exceção instaurado no Brasil, como registra Rubem Alves no prefácio “Sobre deuses e caquis” do livro Da esperança:
«Acontece que eu vivia em exílio, aguardando a volta; e era preciso pensar a vida. A minha dor não me permitia outra coisa. É sempre assim: o pensamento aparece no lugar do sofrimento. Se o meu coração vai pulsando sem problemas, até me esqueço que ele existe. Mas basta que dê uns tropeções para que se transforme no centro do meu mundo. Ah! Como me torno consciente dele! O pensamento mora no lugar onde o corpo me dói. E o meu doía num lugar diferente: minha dor era a luta para continuar a ter esperanças. Seria terrível se a vida ficasse só tristeza».
Não se tratava, entretanto, de um corpo somente individual, na verdade, a atenção se voltava para dentro do corpo e encontrava outros corpos no sofrimento das mesmas dores e que buscavam também a esperança – nunca será demais lembrar que Rubem Alves nasceu na cidade de Dores da Boa Esperança – e a libertação. Tratava-se, portanto, de um corpo encarnado, cravado na história. Em “Sobre deuses e caquis”, Rubem Alves ressalta que sua experiência de exílio se deu muito em função de denúncias enviadas ao Supremo Concílio da IPB por irmãos seus de igreja e comunidade. E seu caso não foi o único dentro da mesma denominação eclesiástica, conforme o relato bem documentado de João Dias de Araújo no livro Inquisição sem fogueiras: vinte anos de história da Igreja Presbiteriana do Brasil, 1954-1974 (1975).
A tese de doutoramento de Rubem Alves consiste numa reflexão teológica em resposta à emergência de uma nova consciência, que vem à tona quando os dominados, submetidos a um poder que não lhes permite criar história, passam a se expressar de maneira crítica. A conscientização faz superar a mudez provocada pela falta de esperança e poder – e, ao mesmo tempo, provoca uma explosão, espécie de libertação em forma de grito de dor. Trata-se de um trabalho de crítica que aponta os limites de uma sociedade, bem como suas contradições, além de enfatizar a potência da imaginação, que cria uma nova visão e faz renascer a esperança. A dor do corpo do oprimido – sujeito e classe – exige uma nova resposta e a vocação política como prática da liberdade é condição para a humanização.
De volta ao Brasil em 1968, no ano seguinte, Rubem Alves passou a lecionar na Faculdade de Filosofia de Rio Claro. Período em que também obteve, em 1970, o registro como professor de piano pelo Conselho Estadual de Cultura. Em 1971, atuou como professor visitante no Union Theological Seminary, em Nova Iorque, retornando, em 1972, para a Faculdade de Rio Claro.
«Em 1974, ingressa no Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Em 10 de Novembro de 1975, nasce sua filha Raquel Nopper Alves, fato que marca sua vida e sua carreira. Ela nasce com lábio leporino e fissura palatal e diante disso Rubem Alves transforma seu jeito de escrever. Começa a se desligar dos formatos acadêmicos de escrita, dando espaço àquilo que lhe dizia o coração, com o objetivo de tocar a alma das pessoas e também ajudar sua filha».
Disponível em institutorubemalves.org.br.
Na mesma UNICAMP, Rubem Alves se tornou livre docente em 8 de abril de 1980, depois, alcançou também o título de professor emérito, aos 3 de maio de 1995. Além disso, em Campinas, Rubem Alves escreveu crônicas semanalmente, por mais de 20 anos, no jornal Correio Popular, e se tornou membro da Academia Campinense de Letras em 1982. Fora da cidade que escolheu para residir e trabalhar, foi colunista do jornal Folha de S. Paulo, além de ter contribuído com publicações periódicas em outros veículos de comunicação religiosos e seculares, no Brasil e no exterior.
No final dos anos 1980, o método psicanalítico se tornou a base de boa parte da construção intelectual de Rubem Alves, chegando mesmo a atuar como psicanalista. Rubem Alves comungava com Freud acerca de uma superação dos equívocos do Iluminismo e de quaisquer outros sistemas totalizantes, ao conceber o real em que o ser humano habita como construção humana – ou seja, a cultura como fruto do esforço para organização do mundo, segundo valores humanos – e o sujeito como sensibilidade desejante, que se constitui de acordo com um núcleo inconsciente, energético e libidinal, e não como razão pura.O ser humano, assim, é fundamentalmente corpo e o encontro com o mundo é originalmente emocional. Nascia, por conseguinte, uma nova concepção alvesiana de construção de mundos, por meio de uma ampliação de concepção dos outros significantes, conforme escreveu em Variações sobre a vida e a morte: o feitiço erótico-herético da teologia (1981/1982):
«Não. Não existe um mundo neutro. O mundo é uma extensão do corpo. É vida: ar, alimento, amor, sexo, brinquedo, prazer, amizade, praia, céu, azul, auroras, crepúsculos, dor, mutilação, impotência, velhice, solidão, morte, lágrimas, silêncios. Não somos seres de conhecimento neutro, como queria Descartes. Somos seres do amor e do desejo. E é por isso que minha experiência de vida é essencialmente emoção».
Trata-se de uma maneira nova de conceber a relação do ser humano com o mundo e de motivar a valorização de elementos culturais que expressam experiências não racionais, como as narrativas míticas, os aforismos, a linguagem poético-literária, a inventividade da imaginação. Rubem Alves passou a fazer filosofia e teologia segundo a postura de quem se coloca à espreita para escutar o ser humano no seu existir cotidiano, para reconhecer seu desejo mais profundo. O projeto antropológico que surge dessa perspectiva é um projeto de liberdade do sujeito pelo reconhecimento das relações de poder que perpassam a experiência humana. Poder que, mais além dos conflitos de classe, insinua-se entre os corpos e se revela no trabalho de escuta e interpretação, permitindo resgatar a experiência na origem da repressão dos desejos.
O reconhecido faro de Rubem Alves para diagnosticar dogmatismos e sua luta contra toda forma de repressão no campo religioso, mas não somente nele, levou sua militância ao movimento ecumênico mundial, assim como na América Latina e no Brasil. Por ocasião de sua morte, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) publicou o artigo “CMI relembra a contribuição de Rubem Alves ao movimento ecumênico”, escrito por Theodore Gill, com reportagem de Marcelo Schneider (Disponível em: www.oikoumene.org). Qualquer listagem das muitas instituições, organizações e movimentos ecumênicos que contaram com a participação direta ou indireta de Rubem Alves não consegue ser exaustiva nem completa, mas podem ser feitos alguns destaques: Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP)/Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU), CMI, Federação Universal de Movimentos Estudantis Cristãos (FUMEC), SODEPAX (acrônimo de Société, Développement, Paix), Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL), Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), Centro Evangélico Brasileiro de Estudos Pastorais (CEBEP), Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI)/KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, Instituto de Estudos da Religião (ISER), revista Tempo e Presença, revista Religião & Sociedade.
Rubem Alves não se encaixava por completo em nenhuma instituição, transitava bem pelos campos religioso, teológico, acadêmico, científico, teológico, psicanalítico, mas não se ajustava a nenhum deles propriamente. Assim, a poesia se tornou para ele uma opção de linguagem, por tornar possível a superação de uma condição restritiva do sujeito aos limites da razão e da sociedade à pura objetividade. O Rubem Alves poeta (e também o cronista do cotidiano) acreditava na necessidade do resgate da corporeidade e da importância da emoção, porque compreendia que a cultura e a sociedade são construções humanas que têm na sua origem a emoção e não a razão.
Como a palavra é capaz de apontar para a dimensão original da experiência humana, que está marcada fundamentalmente pela emoção, ou seja, que não é todo o tempo argumentação encadeada racionalmente, segundo as regras do discurso científico, então, a poesia é a palavra do corpo e a crônica é a expressão da vida no cotidiano. Assim, Rubem Alves se tornou um educador-poeta a sonhar com uma escola que talvez nunca viesse a existir, embora não se cansasse de falar dela. Até que encontrou, de fato, em Vila das Aves, Portugal, a Escola da Ponte, a respeito da qual publicou algumas crônicas no jornal Correio Popular, posteriormente transformadas em livro A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir (2001).
No campo pessoal, Rubem Alves e Lídia se divorciaram em 1995. Em seguida, por 14 anos, ele se relacionou com Thais Couto (até 2009). Nesta fase, desligou-se da atuação como psicanalista e passou a se ocupar com palestras em âmbito nacional e internacional, e com a carreira de escritor. Além disso, consagrou-se como um dos maiores nomes da educação brasileira. Em 2003, recebeu do governador do estado de São Paulo o Prêmio PNBE “O educador que queremos”. Em 2009, recebeu o 2º lugar do Prêmio Jabuti na categoria “Contos e Crônicas”, com seu livro Ostra feliz não produz pérola (2008). Curado de um câncer de estômago em 2006, Rubem Alves se submeteu, em 2009, a uma cirurgia cardíaca. Com o final de seu relacionamento com Thais Couto, aproximou-se de Lídia Nopper, com quem se casou novamente em 2010. Em 2011, descobriu o Mal de Parkinson e foi, em consequência da doença, abandonando gradativamente as atividades. Rubem Alves morreu aos 19 de julho de 2014 (Disponível em: institutorubemalves.org.br).
No conjunto das obras de Rubem Alves, pode-se dizer que cada tema desenvolvido – publicado em forma de livros, artigos, crônicas, estórias infanto-juvenil – está conectado com outro, por associação livre ou projetada. Noutros termos (também alvesianos), como na composição musical, são variações sobre um mesmo tema. Como consequência de um processo, aprofundado com o passar do tempo e em coerência com uma visão de mundo e uma concepção antropológica que se forjaram, sempre em transformação e mudança no interior de seu pensamento, é possível afirmar que a maneira de Rubem Alves se expressar vai se tornando mais estética do que científica, de modo consciente e deliberado. Há uma passagem do teólogo (filósofo, cientista) ao poeta, que deixou de lado a preocupação com textos acadêmicos para se dedicar cada vez mais à produção de crônicas do cotidiano, meditações sobre a vida e a morte, estórias de grande profundidade existencial – numa combinação muito significativa entre corpo e palavra.
Premiações e condecorações mais importantes recebidas por Rubem Alves são disponível em: institutorubemalves.org.br. Algumas delas são: Membro da Academia Campinense de Letras (1982); Professor Emérito da Unicamp (3 de maio) (1995); Cidadão Campineiro (27 de maio) (1996); Prêmio PNBE “O educador que queremos” – Estado de São Paulo (2003); 2º lugar do Prêmio Jabuti categoria “Contos e Crônicas” com seu livro “Ostra feliz não produz pérola” (Editora Planeta) (2009) y Prêmio Eric Hoffer Awards (Menção Honrosa em Excelência em publicações religiosas) com o livro Transparencies of Eternity (tradução para o Inglês nos EUA do título original “Transparências da Eternidade”) (2012).
Obra
Bibliográfica (representativo)
- “A Theological Interpretation of the Meaning of the Revolution in Brazil”, Thesis, Dissertation, Union Theological Seminary, 1964.
- Tomorrow’s Child: imagination, creativity, and the rebirth of culture, London, S.C.M. Press, 1972 (reimpressão: A gestação do futuro, 1986)
- O enigma da religião, sin datos editoriales, 1975
- Protestantismo e repressão, São Paulo, Atica, 1979
- Dogmatismo e tolerância, São Paulo, Edições Paulinas, 1982
- O suspiro dos oprimidos, São Paulo, Edições Paulinas, 1984
- O poeta, o guerreiro, o profeta, Petrópolis, Vozes, 1992
- Da esperança, Campinas, Editora Papirus, 1987 (reimpressão: Por uma teologia da libertação, de Juiz de Fora (Minas Gerais)/São Paulo, Editora Siano/Editora Recriar, 2019)
- Religião e repressão, São Paulo, Loyola, 2005
Cómo citar esta entrada: Costa Baptista Mariani, Ceci Maria y Martins Campos, Breno (2022), “Alves, Rubem”, en Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. Disponible en https://diccionario.cedinci.org.